terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Parlamento Jovem

PARLAMENTO JOVEM – 2009

TRANSPORTE COLETIVO URBANO

PROPOSTA DE DOCUMENTO FINAL


1. Aumento do número de bancos específicos para idosos, e gestantes, e dos assentos para passageiros, a fim de melhorar o conforto e a segurança, sem que haja alteração na tarifa.
2. Colocação de mais bancos diminuindo o tamanho dos corredores dos ônibus para que caiba mais pessoas sentadas e assim dar mais conforto ao passageiro.
3. Colocação de mais ônibus nos horários de pico para evitar a superlotação.
4. Criação de Campanhas que visem conscientizar motoristas sobre o respeito ao transporte de idosos e demais usuários.
5. Criação de vias de embarque obrigatórias nas plataformas, visando a segurança e a organização no momento de embarque de passageiros
6. Entrada do ônibus pela porta de traz e saída pela porta da frente dos ônibus para que o motorista veja quem está descendo, principalmente quando o veículo está lotado. Da forma como está hoje as pessoas ficam inseguras pois muitas vezes os ônibus se movimentam antes que passageiro conclua o desembarque.
7. Humanizar o transporte nos horários de pico com a colocação de mais veículos para evitar a superlotação.
8. Implantação de lixeiras nos coletivos, contribuindo para a conservação da limpeza e higiene, além de promover campanha educativa para não atirar lixo fora dos coletivos.
9. Implantação de Painel eletrônico para o controle do número de passageiros embarcados, também para evitar a superlotação.
10. Implantar horários flexiveis para os bairros Filadélfia, Campos Elíseos e Santa Clara, pois devido ao extenso tempo entre outros coletivo (45 minutos), a maioria dos moradores desses bairros acaba sendo transportada somente pelo Parque Pinheiros/Itamaraty.
11. Implementação do transporte gratuito para os estudantes, promovendo a permanência dos mesmos no Ensino Médio, em parceria com a Superintendência de Ensino. Verificar a possibilidade de uma linha específica para os estudantes dos bairros Santa Clara, Filadélfia, Parque Pinheiros e Itamaraty, até a escola Davi Campista, no horário matutino e noturno, como já ocorre na escola Parque das Nações, zona Sul da cidade.
12. Implementar uma linha para o bairro Itamaraty, pois, devido a expansão de novos loteamentos, o número de usuários aumentou proporcionalmente, ocasionando atrasos nas linhas e insegurança durante o trajeto devido a superlotação.
13. Liberar o uso do passe escolar, para sábado, domingo e feriado. Mais uma vez a justificativa são atividades extra-curriculares, inclusive festas que ocorrem nas escolas.
14. Maior fiscalização por parte da Prefeitura, nos ônibus e principalmente nas vans escolares – pelo DEMUTRAN - para evitar irregularidades e situações que coloquem os passageiros em risco.
15. Mais 20,00 em crédito por mês, no passe de R$ 0,50 para atividades extra-curriculares.
16. Melhoria nos ônibus e cumprimento dos demais tópicos supracitados, sem alteração e aumento na tarifa , uma vez que a concessão do transporte público no município, como determina a lei, estabelece um transporte seguro e de qualidade para todos os seus usuários.
17. Rigor nos horários de saída da garagem e nos terminais de linhas urbanas, evitando atrasos abusivos ou saídas antes do horário previsto, causando prejuízo aos usuários. Aumentar e regularizar o número de ônibus em horários de pico.
18. Ser permitido recarregar o cartão do passe-escolar mais uma vez por mês. No entanto nesta segunda recarga, não teria o direito aos créditos extras.
19. Substituição de parte do combustível dos ônibus da empresa concessionária para o uso de Biodiesel para diminuir a emissão de poluentes.
20. Ter uma linha de ônibus às 6:00 e às 18:00 para a zona rural, para atender ao pessoal que trabalha na cidade, ou utiliza serviços médicos que sempre são pela manhã. (Rápido Campinas)
21. Uso de combustível menos poluente nos coletivos, visando a qualidade do meio ambiente.
22. Uso diário ilimitado do passe escolar e assim acabar com o limite de quatro passes por dia. Em várias oportunidades os alunos participam de atividades extras na escola e para a realização de trabalhos escolares e não podem utilizar o passe-escolar nessas ocasiões.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

As multinacionais e sua forma de capitalizar

Por Francislei Júnio de Oliveira*

Na última sexta feira, dia 27/11, numa aula de Geografia, sob orientação do professor Marcelo Fonseca, tive a oportunidade de assistir ao documentário “The Corporation” (2004).
Fui apresentado a um mundo desconhecido por mim, e por milhões de pessoas: o mundo onde quem manda são as multinacionais e seus acionistas. Confesso que fiquei horrorizado, por ver a tamanha desumanização que admitimos pelo simples prazer de ter um tênis Nike, ou uma camiseta Puma...
Tal documentário, mostra algumas das mais ascendentes empresas em diversos setores, dentre eles, produtos de vestuário, alimentícios, e remédios usados na produção de leite.
The Corporation, também mostra as condições de trabalho que não se compara a escravidão. Em Honduras, por exemplo, os trabalhadores de uma fábrica da Nike, ganhavam cerca de U$0,23 por dia, sendo que gastavam U$2,20 em alimentação.
Além destas condições desumanas, temos também certos tipos de envenenamento dos consumidores através dos alimentos industrializados e de agrotóxicos, complementos alimentares e hormônios que dão aos animais, e secundariamente acabamos ingerindo também.
Vemos claramente nas propagandas e até nos rótulos, que produtos usados na fabricação não possuem efeitos nocivos a saúde, mas estudos e pesquisas apresentados no filme, comprovam que as empresas mentem ou no mínimo omitem a verdade ao consumidor.
Mutações, desenvolvimento sexual precoce e até mesmo o câncer, podem ter suas origens nestes produtos.
Que ponto chegamos; causar doenças sem cura, para obter lucros maiores!
E afinal, o que devemos fazer para não sermos reféns destes bandidos? Será que seremos como peixes e morrer pela boca? É hora de mudar!

*Aluno do 1º Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dr. João Eugênio de Almeida

domingo, 18 de outubro de 2009

O legado de Che Guevara

por João Pedro Stedile

Em 8 de outubro cumpre-se o aniversário do assassinato de Che Guevara pelo exército boliviano. Após sua prisão, em 8 de outubro de 1967, foi executado friamente, por ordens da CIA. Seria ''muito perigoso'' mantê-lo vivo, pois poderia gerar ainda mais revoltas populares em todo o continente.

Decididamente, a contribuição de Che, por suas idéias e exemplo, não se resume a teses de estratégias militares ou de tomada de poder político. Nem devemos vê-lo como um super-homem que defendia todos os injustiçados e tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.
Analisando sua obra falada, escrita e vivida, podemos identificar em toda a trajetória um profundo humanismo. O ser humano era o centro de todas as suas preocupações. Isso pode-se ver no jovem Che, retratado de forma brilhante por Walter Salles no filme Diários de Motocicleta, até seus últimos dias nas montanhas da Bolívia, com o cuidado que tinha com seus companheiros de guerrilha.

A indignação contra qualquer injustiça social, em qualquer parte do mundo, escreveu ele a uma parente distante, seria o que mais o motivava a lutar. O espírito de sacrifício, não medindo esforços em quaisquer circunstâncias, não se resumiu às ações militares, mas também e sobretudo no exemplo prático. Mesmo como ministro de Estado, dirigente da Revolução Cubana, fazia trabalho solidário na construção de moradias populares, no corte da cana, como um cidadão comum.

Che praticou como ninguém a máxima de ser o primeiro no trabalho e o último no lazer. Defendia com suas teses e prática o princípio de que os problemas do povo somente se resolveriam se todo o povo se envolvesse, com trabalho e dedicação. Ou seja, uma revolução social se caracterizava fundamentalmente pelo fato de o povo assumir seu próprio destino, participar de todas as decisões políticas da sociedade.

Sempre defendeu a integração completa dos dirigentes com a população. Evitando populismos demagógicos. E assim mesclava a força das massas organizadas com o papel dos dirigentes, dos militantes, praticando aquilo que Gramsci já havia discorrido como a função do intelectual orgânico coletivo.

Teve uma vida simples e despojada. Nunca se apegou a bens materiais. Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de todo o povo. Por isso, Cuba foi o primeiro país a eliminar o analfabetismo e, na América Latina, a alcançar o maior índice de ensino superior. O conhecimento e a cultura eram para ele os principais valores e bens a serem cultivados. Daí também, dentro do processo revolucionário cubano, era quem mais ajudava a organizar a formação de militantes e quadros. Uma formação não apenas baseada em cursinhos de teoria clássica, mas mesclando sempre a teoria com a necessária prática cotidiana.

Acreditar no Che, reverenciar o Che hoje é acima de tudo cultivar esses valores da prática revolucionária que ele nos deixou como legado.

A burguesia queria matar o Che. Levou seu corpo, mas imortalizou seu exemplo. Che vive! Viva o Che!

João Pedro Stedile é membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

MST ocupa fazenda grilada pela Cutrale

Do Centro Acadêmico de Comunicação “Florestan Fernandes”

http://cacoffunesp.blogspot.com/

A grande imprensa no último dia 05 de outubro alardeou a “invasão” de terra provocada por integrantes do MST. Em voos razantes a PM captou imagens de um trator cortanto pés de laranja. Como é de costume, a mídia apresenta os fatos sem uma necessária contextualização do problema com o intuito claro de colocar a opinião pública contra os movimentos sociais. Esses movimentos lutam pelo real desenvolvimento social do país frente ao grande crescimento econômico que aquece a conta corrente daqueles que estão no topo da escala social.A região mostrada na imprensa, Aras, Agudos, Borebi, no centro-oeste do Estado de São Paulo, onde hoje a empresa Cutrale tem imensas plantações de laranja, tem sua história abafada pelos interesses dos grandes latifundiários brasileiros. Vamos a ela então.No início do século XX o Governo Federal destinou naquela região mais de 50 mil hectares para a colonização italiana. No entanto, isso não foi possível pois os fazendeiros do café entendiam que essas terras para colonização italiana diminuiriam a oferta de trabalho barato nas plantações de café, e como é de costume, impediram que essas terras fossem destinadas para o fim proposto.Com o passar do tempo esses 50 mil hectares foram sendo grilados por grandes empresas, principalmente madeireiras. Um pouco mais recente é a entrada da Cutrale nessa região através de terras griladas. Hoje a Cutrale mantém ali uma plantação de cerca de 4 mil hectares apenas de laranja. Só a título de exemplo, com esse número mais de 130 famílias poderiam estar assentadas e plantando alimentos necessários para a alimentação da população, já que não só de laranja vive o homem.Essas terras da região centro-oeste são uma reinvidicação de mais de 15 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra para que ela seja destinada a reforma agrária e contribua para a melhora do quadro social do país. Segundo o INCRA, orgão governamental que regula a reforma agrária, a invasão da Cutrale é ilegal e as terras deveriam ser devolvidas ao governo federal.Mais de 350 famílias ocupam essa região como forma de pressão para que as terras do governo sejam destinadas à reforma agrária. Parece inconcebível que uma mega empresa, através de meios obscuros como é a grilagem, explore a terra apenas para lucro próprio sem ter pago nenhum centavo, enquanto milhares de famílias continuam na luta por um pedaço de terra agricultável.Na região de Borebi alguns pés de laranja, entre os 4 mil hectares plantados, foram derrubados para que arroz, feijão, milho, batata pudessem ser plantados. Não nos esqueçamos nunca que a reforma agrária é imprescindível para a construção de um país realmente justo, democrático e menos desigual.Enquanto o Brasil continuar com uma ditribuição fundiária quase feudal, os números midiáticos continuarão nos falando lindas mentiras e a realidade, duras verdades.Lembrando de João Cabral de Melo Neto, pergunto: qual será a parte que cabe ao povo neste latifúndio chamado Brasil?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Jejum no Mês de Ramadan

ASSALAM UA LEIKUM !!!

No último domigo mais de 1 bilhão de muçulmanos comemoraram o "AL ID", tal data celebra o fim do Ramadan, mês de jejum e reflexão para o Islamismo. Este belo texto mostra o significado do jejum.

O Jejum no Mês de Ramadan

por Nizar El-Khatib*

No jejum do Ramadan (9º mês lunar), que iniciou-se em 22/agosto e terminou neste domingo com a comemoração de “Al Id”, mais de 1 bilhão de muçulmanos em todo o mundo abstiveram-se de beber água e comer, do alvorecer ao pôr-do-sol.

O Al Id é o dia em que as pessoas desejam felicitações umas às outras, geralmente durante as festas que são preparadas nas mesquitas quando do término do jejum. Sentimos uma alegria incomum após jejuarmos durante um mês inteiro.

A abstenção de alimentos nos faz refletir de maneira mais intensa sobre a nossa espiritualidade e a nossa atitude diante do mundo material e do consumo.

A sensação de fome nos coloca no lugar de nossos semelhantes que lutam com muita dificuldade pela sobrevivência, nos levando a refletir sobre a dor de tantas crianças famintas e o desespero de tantas mães para alimentarem seus filhos. O jejum nos leva a meditar e nos ensina a humildade. Durante este período desejamos paz, saúde e prosperidade para todas as pessoas e mentalizamos um mundo melhor, mais justo, com pessoas dignas e respeitadas, independentemente de religião, cor ou nacionalidade.

A privação de alimentos por vontade própria também nos leva a perceber nosso sistema digestivo como um importante centro de saúde ou enfermidade, e o alimento seu melhor remédio. É um processo de aprendizagem tanto sobre o nosso corpo quanto sobre os alimentos que ingerimos.

O jejum cultiva no homem, uma consciência vigilante e sã, um sentido criador de esperança e uma atitude otimista perante a realidade.
Cria no homem o verdadeiro espírito de dedicação social, de unidade, fraternidade e de igualdade perante a Deus e perante as Leis.
O jejum cria o sentimento de misericórdia e nos acostuma à disciplina, à generosidade e à paciência nas dificuldades.

O Islamismo, com a Instituição do jejum de Ramadan, traz à humanidade um benefício incomparável, transformando as pessoas em bondade, compreensão e amor.
Kúl ám u antúm bikheir (Felicidades em árabe)

Um forte abraço a todos e Feliz AL ID !

*Nizar é um grande companheiro de lutas socias em Poços de Caldas.

domingo, 13 de setembro de 2009

O efeito tequila dos tucanos

Por Emir Sader

Se os tucanos estivessem governando o Brasil – seja com a vitória de Serra em 2002 ou de Alckmin em 2006 – os efeitos da crise que o país está superando, seriam tão devastadores como foram os da crise de janeiro de 1999. O Brasil teria elevado a taxa de juros a alturas estratosféricas – em 1999 foi para quase 50% -, os gastos públicos sofreriram novo corte drástico, se assinaria novo acordo com o FMI, com a obrigação dessas medidas, mais privatizações de empresas estatais, etc., etc., como o governo FHC tinha acostumado ao país.

Para não ir mais longe: teríamos o mesmo destino do México. Como os tucanos são adeptos dos Tratados de Livre Comércio – tinham comprometido o Brasil com a Área de Livre Comércio para as Américas, Alca, que o governo Lula enterrou – estaríamos sofrendo as mais duras e diretas consequências da recessão norteamericana. O México, ao assinar o TLC da América do Norte – o Nafta – teve seu comércio com os EUA elevado para mais de 90% do total. Podemos imaginar o tamanho da recessão mexicana. Calcula-se que a economia terá um retrocesso de 7% neste ano, sem perspectivas de recuperação. Não por acaso o governos do México bateu uma vez às portas do FMI, com as consequências que se conhece, pela assinatura de mais uma Carta de Compromisso.

Combinam-se no México vários elementos explosivos de crise: para começar, um presidente neoiberal, Calderón, que procura dar continuidade ao programa de governo Fox, com a agravante de que triunfou por uma margen exígua de votos, com muitos indícios de fraude. Em segundo lugar, a profunda crise econômica, resultado das políticas neoliberais, agravada pela abertura econômica do Tratado de Livre Comércio assinado pelo México, com as consequências da recessão norteamericana. Em segundo lugar, a explosiva expansão do narcotráfico, com a aceleração da violência e da crueldade da ação das gangues e do exército e das polícias, fruto da situação limítrofe com os EUA, o maior mercado consumidor de drogas do mundo. Em terceiro lugar, a situação difícil dos trabalhadores mexicanos nos EUA, que sofrem mais diretamente os efeitos da crise: diminui a ida de mexicanos, porque os postos de trabalho diminuíram sensivelmente, ao mesmo tempo que diminui enormemente o envio de dólares para as familias mexicanas.

O livre comércio trouxe para o México, inicialmente, a promessa de desenvolvimento econômico, que ficou no entanto restrito à fronteira norte, onde o trabalho de mulheres e crianças nao sindicalizadas atraía capitais pela superploração da mão de obra. Mas mesmo essa “vantagem comparativa” desapareceu, conforme a China, mesmo situada incomparavelmente mais distante, atraiu as empresas, pela maior qualidade da mão de obra, seu preço menor e, especialmente, a capacidade de consumo do mercado chinês.Hoje o México vive situação que viveria o Brasil, uma brutal ressaca do tequila com que os tucanos teriam embebado o país.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

É hora de deseducar

Tiago Barbosa Mafra *

Ao observar a juventude dos dias atuais é claramente perceptível o esvaziamento de sentido de vida dessas pessoas. Falta-lhes objetivo, perspectiva, rumo. Muitos encontram orientação na rua, outros nas drogas, outros na violência, e a grande maioria no consumo exagerado como forma de atenuar a solidão construida pelo individualismo da vida contemporânea. A quebra de paradigmas do pós-modernismo deixou a sociedade com paradigma nenhum. Salve o deus mercado.
Nessa balburdia toda, qual o papel da educação? Como deve se posicionar a escola?
O primeiro passo para avançar na discussão é determinar o que a escola não deve ser. Na obra de Patrice Bonnewitz sobre as idéias de Pierre Bourdieu, apresenta-se a escola como a instituição que reproduz as desigualdades sociais, enquanto sistema de violência simbólica. “A cultura escolar é uma cultura particular, a da classe dominante, transformada em cultura legítima, objetivável e indiscutível”. (BONNEWITZ, 2003: 114)
Este é o primeiro aspecto do qual a escola pode fugir para não se tornar um instrumento de imposição de idéias, conceitos e atitudes dos grupos dominantes.
Outra avaliação corrente nos grupos de professores e na sociedade em geral, é de que a escola necessita de neutralidade, delegando aos estudantes a possibilidade das escolhas. Em relação à isso, é ingenuidade pensar a escola como um espaço neutro. Enquanto pesquisamos sobre algo ou debatemos algum conteúdo, é necessário a clareza de que são conhecimentos produzidos em um contexto, sob influências e valores simbólicos, diferentes dos atuais e que estavam a serviço de ideologias e/ou interesses de cada tempo. “A seleção das disciplinas ensinadas, assim como a escolha dos conteúdos disciplinares é o produto de relações de força entre grupos sociais. A cultura escolar não é uma cultura neutra, mas uma cultura de classe”.(BONNEWITZ, 2003: 115).
Há de se convir também que todos os espaços de vivência da juventude são continuamente fuzilados com propagandas e idéias prontas, as quais a maioria abstrai e torna como sendo sua, reproduzindo o que Eduardo Galeano chamou de Virtude do Papagaio.
Assim, ou a escola é um mero transmissor de conhecimentos, tecnicista e totalmente atrelada à cultura dominante, ou ela pode ser um modo de mostrar ao aluno que ele é sujeito de seu próprio tempo e espaço; definitivamente, neutra a escola não é, e nós, professores, não devemos tomá-la como tal. O educador precisa ter o comprometimento de apresentar ao estudante as mais variadas vertentes sobre os conteúdos, mas sem que isto acarrete na suspensão de suas idéias e valores sobre o tema.
Feitas tais ressalvas, é possível dizer que a escola tem capacidade de funcionar como formadora de pessoas de pensamentos e ações críticas em relação à realidade em que vivem. E acima de tudo, a educação proporcionada pela escola e pelos professores tem que ser uma educação para a liberdade, como propôs o educador Paulo Freire (extremamente reconhecido no mundo, e quase nada no Brasil):
“O caminho, por isto mesmo, para um trabalho de libertação a ser realizado pela liderança revolucionária, não é a “propaganda libertadora”. Não está no mero ato de “depositar” a crença da liberdade nos oprimidos, pensando conquistar a sua confiança, mas no dialogar com eles”. (FREIRE, 2002: 54)
A atividade docente, por mais que haja opiniões divergentes acerca do assunto, é um ato político. Não no sentido partidário, mas no ambito das relações de poder e do entendimento e atuação destas na construção dos espaços de vivência.
Talvez o papel da escola, na conjuntura atual, seja “deseducar”, contruindo o encontro do povo oprimido com a liderança revolucionária, para que na comunhão de ambos, como dizia Freire, a liberdade se faça e refaça sempre.

* Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TEXTOS DE ALUNOS

TEMA: Produção Industrial X Preservação Ambiental

Marilia Petreca - Aluna do 8º ano (EE João Eugênio)

Como consumir sem destruir?
O homem vive em um mundo capitalista, completamente consumista, que exclui pessoas apenas por não possuírem o “carro do ano”, a “roupa da moda”. O consumo exagerado aumenta a cada dia, a sede de consumir das pessoas parece não acabar nunca.
Com esse consumismo desenfreado, as fábricas precisam aumentar a produção e a busca das matérias primas para seus produtos. Mas e a natureza, como é que fica em meio a tanta exploração? É impossível que a natureza reponha seus recursos com tanta rapidez, isso leva muito tempo, só que ao mesmo tempo, também é impossível que possamos viver sem consumir, mesmo que moderadamente. Juntando essas duas necessidades, a de que a natureza seja poupada e que mesmo assim continuemos consumindo, é que entra o desenvolvimento sustentável. É claro que não é fácil colocá-lo em prática, pois parece difícil colocar um carro em movimento sem produzir fumaça, é difícil tirar minérios do solo sem deixar buracos, mas é possível pensar em formas de equilibrá-las

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Lucas Gabriel - Aluno do 8º ano (EE João Eugênio)

Não vamos ser Mais um!
A produção Industrial é um problema imenso para o planeta, pois, eles não ligam para o meio ambiente. A Indústria, elimina um bocado de árvores, ganha seu grandioso dinheiro , fica com seu lucro e não se preocupa em plantar novas árvores para reflorestar e ajudar a desaparecer a espécie do planeta . Com essa matéria prima a indústria transformará em bancos , mesas ,brinquedos e etc.
Por isso devemos ter uma grande responsabilidade e assim utilizar e reflorestar para que todos tenham um mundo melhor no futuro ! Também devemos não poluir como, não jogar lixos nos rios e nas ruas , para evitar enchentes .
Existe sempre aquele velho ditado: {se todo mundo faz, por que não devo fazer também?}
Se todos nós cuidarmos do planeta e não poluir e jogar lixo nas ruas , e também no futuro trabalho, utilizando com responsabilidade todos daremos um futuro melhor para nossos filhos, netos e bisnetos.
Vamos todos fazer nossa parte !

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Thayna Cristina - Aluna do 8º ano (EE João Eugênio)

Fábricas, indústrias e afins... Tudo isso produz, mas será que pensam no ambiente também? Por que será que o ser humano não tem um pouquinho de consciência? Será que ninguém pensa que só produzir, extrair materiais do ambiente, sem preservar, um dia vamos ficar sem?Inúmeras fábricas poluem o ambiente, tanto com gás carbônico, quanto com lixos. Eles não param pra pensar se o ambiente vai ser prejudicado com isso, e os que pensam, são poucos para fazer diferença. O ambiente é tão importante quanto as indústrias de comércio; se nós não vivemos sem comércio, tampouco viveremos sem o meio ambiente. Nenhuma indústria pode produzir sem os recursos naturais. Então como um precisa do outro, os donos das indústrias deveriam arrumar um modo de produzir e preservar! As fábricas deveriam produzir e ao mesmo tempo preservar, não só elas... Mas todos nós.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

MST: A DEFESA DO POVO

Por Marcelo Fernandes Fonseca de Oliveira*

Acompanhamos no noticiário dos últimos dias mais uma ação do maior movimento social do Brasil, o MST. A Jornada Nacional de Lutas do MST mobilizou no último dia 12/08 trabalhadores de 11 estados, pela cobrança da Reforma Agrária e o fortalecimento dos assentamentos já existentes, além de debater com a sociedade, alternativas para a crise econômica mundial.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, há mais de vinte anos vem combatendo e batendo de frente as injustiças sociais ocorridas no Brasil principalmente no campo. O histórico de lutas do movimento é enorme, e na maioria vezes a mídia brasileira os apresenta como um “bando” de baderneiros financiados pelo governo.
Na verdade, a luta do MST vai além das questões agrárias. As mobilizações dos trabalhadores é uma forma de pressionar as autoridades brasileiras a aplicarem as leis, uma vez que as leis no Brasil são aplicadas somente a favor dos poderosos. João Pedro Stedile, um dos líderes do movimento disse certa vez: “se reuniões e assembléias dessem resultados em prol dos trabalhadores não seria necessário mobilizações populares”.
No tocante as questões ambientais, a Aracruz Celulose comprou mais de 300 mil hectares de terras no Rio Grande do Sul para plantar eucalipto sem licença ambiental. A monocultura deste gênero é extremamente prejudicial ao meio ambiente, uma vez que necessita de um grande volume de água para seu desenvolvimento. A área de plantio está sobre uma das maiores reservas de água doce do mundo: o Aquífero Guarani.
Como forma de chamar a atenção da opinião pública para este grave problema ambiental, as valentes mulheres do movimento ocuparam o laboratório da Aracruz e destruíram milhares de mudas que, proibidas de serem plantadas na Europa, deixariam no Brasil todo passivo ambiental. A mesma empresa doou 500 mil Reais para a campanha de Yeda Crusius, então governadora do Rio Grande do Sul. Coincidência?
Os laboratórios Monsanto e Syngenta estavam produzindo sementes transgênicas de milho e soja sem licença ambiental, o Ministério Público e o IBAMA foram acionados e não tomaram providências. Este fato só repercutiu na mídia com maior visibilidade graças à ação do MST.
Certa vez o MST ocupou uma praça de pedágio e liberou o tráfego numa rodovia do Paraná, uma das praças mais caras do país. Um Juiz deste mesmo estado declarou: “as empresas de pedágio do Paraná só não tem um lucro maior que o tráfico de cocaína”. Se não houvesse manifestação contra o pedágio certamente poucos saberiam.
Falar sobre as ações do MST, tanto no passado como agora, contra as injustiças sociais que permeiam o debate político nacional, certamente necessitaria de um espaço bem mais amplo de discussões e análises. No entanto, todas as vezes que a grande mídia manipuladora invoca a sigla MST, é para deturpar os motivos das ações. Dizer que o MST “invade” e danifica propriedade privada ou órgão público, certamente, é uma forma de deixar a população pouco esclarecida, contra o movimento.
O MST não recebe verbas de governo e não invade propriedade. O MST “ocupa”, e ocupar é tomar determinado local, público ou privado, com o povo para denunciar. O MST defende o direito do povo de se manifestar e chamar a atenção da opinião pública com o intuito de denunciar injustiças sociais que a mídia, muitas vezes não denuncia.

*Professor de História e Geografia da rede pública estadual de Poços de Caldas – MG. marceloffoliveira@hotmail.com

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O perigo da utopia

Da Agência Carta Maior por José Luís Fiori

Na segunda metade do Século XX, em particular depois de 1968, tornou-se lugar comum a crítica dos "novos filósofos" europeus, que associavam a utopia socialista ao totalitarismo. Mas não se ouviu o mesmo tipo de reflexão, depois da década de 80, quando a utopia liberal se tornou hegemônica e suas idéias tomaram conta do mundo acadêmico e político. Logo depois da Guerra Fria, Francis Fukuyama popularizou a utopia do "fim da história" e da vitória da "democracia, do mercado e da paz". E apesar dos acontecimentos que seguiram, suas idéias seguem influenciando intelectuais e governantes, sobretudo na periferia do sistema mundial.

Basta ver a confusão causada pelo anúncio recente da decisão norte-americana de ampliar sua presença militar na América do Sul. Com a instalação ou ampliação de sete bases militares no território colombiano, que deverão servir de "ponto de apoio para transporte de cargas e soldados no continente e fora dele".( FSP,5/8/09) O governo norte-americano justificou sua decisão com objetivos "de caráter humanitário e de combate ao narcotráfico". A mesma explicação que foi dada pelo governo americano, por ocasião da reativação da sua IV Frota Naval, na zona da América do Sul, no ano de 2008 : "uma decisão administrativa, tomada com objetivos pacíficos, humanitários e ecológicos" (FSP, 9/0708).

Uma das funções dos diplomatas é participar deste jogo retórico que às vezes soa até um pouco divertido. E cabe aos jornalistas o acompanhamento destes debates sobre distâncias, raio de ação dos aviões, ameaça das drogas, etc. Todavia os intelectuais têm a obrigação de transcender este mundo da retórica e dos números imediatos, e também, o mundo das fantasias utópicas, o que as vezes não acontece, e não se trata - evidentemente - de um problema de ignorância. Pense-se, por exemplo, na utopia liberal do "fim das guerras" que já não fariam mais sentido entre os grandes países, e contraponha-se este tese com a história passada e a história do próprio século XX e XXI.

Segundo a pesquisa e os dados do historiador e sociólogo norte-americano, Charles Tilly: "de 1480 a 1800, a cada dois ou três anos iniciou-se em algum lugar um novo conflito internacional expressivo; de 1800 a 1944, a cada um ou dois anos; a partir da Segunda Guerra Mundial, mais ou menos, a cada quatorze meses. A era nuclear não diminuiu a tendência dos séculos antigos a guerras mais freqüentes e mais mortíferas [ alias] , desde 1900, o mundo assistiu a 237 novas guerras, civis e internacionais.. [enquanto.] o sangrento século XIX contou 205 guerras" (Charles Tilly, Coerção, capital e Estados europeus , Edusp, 1996, p. 123 e 131.) Mesmo na década de 1990, durante os oito anos da administração Clinton, que foi transformado na figura emblemática da vitória da democracia, do mercado e da paz, os EUA mantiveram um ativismo militar muito grande. E ao contrário da impressão generalizada, "os Estados Unidos se envolveram em 48 intervenções militares, muito mais do que em toda a Guerra Fria, período em que ocorreram 16 intervenções militares". (Bacevich, 2002: p:143). E mais recentemente, os "fracassos" militares dos EUA, no Iraque e no Afeganistão - ao contrário do que dizem - aumentaram a presença militar dos EUA na Ásia Central e o cerco da Rússia e da China, envolvendo, portanto, preparação para a guerra entre três grandes potências.

Em tudo isto, fica clara a dificuldade intelectual dos liberais conviverem de forma inteligente, com o fato de que as guerras são uma dimensão essencial e co-constitutiva do sistema mundial em que vivemos, e que portanto não é sensato pensar que desaparecerão. Ao contrário do que pensam os liberais, a associação entre a "geopolítica do equilíbrio de poderes" e as guerras, não se restringe ao século XIX, ( já havia sido identificada na Grécia), e o sonho do "governo mundial" das grandes potências, já existe pelo menos desde o Congresso de Viena, em 1815, sem que isto tenha impedido o aumento do numero dos estados e das guerras nacionais.

Neste tipo de sistema mundial, por outro lado, é muito difícil acreditar na possibilidade do "fim do imperialismo", e ainda menos, neste início do século XXI, em que as grandes potências - velhas e novas - se lançam sobre a África, e sobre a América Latina, disputando palmo a palmo o controle monopólico dos seus mercados e das fontes de energia e matérias primas estratégicas. E soa quase ingênua a crença liberal nos "mercados abertos", num mundo em que todas as grandes potências impedem o acesso às tecnologias de ponta, não aceitam a venda de suas empresas estratégicas, e protegem de forma cada vez mais sofisticada seus produtores industriais e seus mercados agrícolas.

Neste ponto, chama atenção a facilidade com que os economistas liberais confundem os mercados de petróleo, armas e moedas, por exemplo, com os mercados de chuchu, queijos e vinhos. Em tudo isto, o importante é que a utopia liberal também pode ter conseqüências nefastas, sobretudo para os países que não estão situados nos primeiros escalões da hierarquia de poder do sistema mundial. Se as utopias de esquerda levaram - em muitos casos - ao totalitarismo, a utopia liberal e sua permanente negação do papel do poder e da preparação para a guerra, na história do capitalismo e das relações internacionais, leva, com freqüência, os intelectuais e dirigentes destes países mais fracos, à uma posição de servilismo internacional.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

CAMPO: DOMINAÇÃO, LUTA E VIOLÊNCIA

Por Marcelo Fernandes Fonseca de Oliveira*

Entre os diversos temas que permeiam o debate político, econômico e social do Brasil contemporâneo, e se torna discurso corrente principalmente em anos eleitorais, diz respeito à estrutura fundiária nacional, a reforma agrária e os conflitos sociais no campo. Muito já se disse e fora prometido, no entanto, nada se fez e nada se faz.
Apesar de possuir dimensões continentais, o Brasil está entre os países com pior distribuição de terras do mundo. E a distribuição existente é uma das mais desiguais. Para o Geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, o latifúndio e as lutas sociais no campo, não são exclusividades do nosso tempo. Tem suas raízes no modelo de colonização empregado no Brasil pelo rei de Portugal, e durante o processo histórico, tal modelo justificou a posse das grandes propriedades rurais.
Com o sistema de Capitanias Hereditárias, os capitães donatários recebiam uma doação da Coroa portuguesa pela qual se tornavam possuidores e não proprietários de vastas extensões de terras. No entanto, a posse dava aos donatários poderes e direitos sobre o território, dentre eles a doação de sesmarias. Para o Historiador Boris Fausto, reside aí a origem do latifúndio e da concentração de terras no Brasil.
A posse da terra era sinônimo de prestígio, uma afirmação aristocrática. Os primeiros prejudicados e os primeiros a lutarem, foram os indígenas, que viram suas terras serem tomadas e seus costumes dilacerados. Lutaram, mas a luta foi desigual. Nos tempos da escravidão, os negros lutaram contra os grandes fazendeiros pela sua liberdade; luta desigual. Canudos e Contestado, camponeses se revoltaram. Para manter a “ordem” o Estado, coercitivo, reagiu com violência.
As lutas no campo ganham dimensão nacional nas décadas de 1950 – 60, com a formação das Ligas Camponesas e a criação da ULTAB (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil). No entanto, com a tomada do poder pelos militares em 1964, os líderes foram perseguidos e assassinados.
Política e interesses agrários se misturam. Leis e acordos justificam atitudes. Entre outras, a Lei de Terras (1850): consolidou o latifúndio, o Convênio de Taubaté (1906): privilegiou os cafeicultores, o Estatuto da Terra (1964): jamais aplicado. E a violência? Não só física, mas simbólica: Corumbiara, Eldorado dos Carajás, Pontal do Paranapanema, Chico Mendes, irmã Dorothy Stang e tantos outros...
O que mudou? Nada. Encontramos facilmente pelos rincões deste país inúmeros latifúndios monocultores controlados por grandes grupos capitalistas e por aqueles que controlam. A “bancada ruralista” congrega mais de cem representantes entre deputados e senadores, e constitui o maior grupo de interesses do Congresso Nacional, frutos da UDR.
E ficam as famosas perguntas que nunca se calam: Será que estes nobres deputados e senadores estão dispostos a fazerem a reforma agrária, tão essencial para o desenvolvimento de nosso país? Repartiriam eles as suas terras e as de seus capachos? Votariam leis contra seus interesses? Eu, modestamente, duvido muito. Reformas sociais, tanto no campo como na cidade, estão atreladas a reforma política e na política.

*Professor de História e Geografia da rede pública estadual de Poços de Caldas – MG. marceloffoliveira@hotmail.com

sábado, 25 de julho de 2009

A falta que faz ao Papa um pouco de marxismo

Leonardo Boff *

A nova encíclica de Bento XVI Caritas in Veritate de 7 de julho último é uma tomada de posição da Igreja face à crise atual. O complexo das crises, que atingem a humanidade e que comportam ameaças severas sobre o sistema da vida e seu futuro, demandaria um texto profético, carregado de urgência. Mas não é isso que recebemos senão uma longa e detalhada reflexão sobre a maioria dos problemas atuais que vão da crise econômica ao turismo, da biotecnologia à crise ambiental e projeções sobre um Governo mundial da Globalização. O gênero não é profético, o que suporia "uma análise concreta de uma situação concreta". Esta possibilitaria investir contra os problemas em tela na forma de denúncia-anúncio. Mas não é da natureza deste Papa ser profeta. Ele é um doutor e um mestre. Elabora o discurso oficial do Magistério, cuja perspectiva não é de baixo, da vida real e conflitiva, mas de cima, da doutrina ortodoxa que esfuma as contradições e minimaliza os conflitos. A tônica dominante não é a da análise, mas da ética, do dever-ser.

Como não faz análise da realidade atual, extremamente complexa, o discurso magisterial permanece principista, equilibrista e se define por sua indefinição. O subtexto do texto, ou o não-dito no dito, remete a uma inocência teórica que inconscientemente assume a ideologia funcional da sociedade dominante. Já se nota na abordagem do tema central - o desenvolvimento - hoje tão criticado por não tomar em conta os limites ecológicos da Terra. Disso a encíclica não fala nada. A visão é de que o sistema mundial se apresenta fundamentalmente correto. O que existe são disfunções e não contradições. Esse diagnóstico sugere a seguinte terapia, semelhante a do G-20: retificações e não mudanças, melhorias e não troca de paradigma, reformas e não libertações. É o imperativo do mestre: "correção", não a do profeta:"conversão".

Ao lermos o texto, longo e pesado, terminamos por pensar: como faria bem ao atual Papa um pouco de marxismo! Este, a partir dos oprimidos, tem o mérito de desmascarar as oposições presentes no sistema atual, pôr à luz os conflitos de poder e denunciar a voracidade incontida da sociedade de mercado, competitiva, consumista, nada cooperativa e injusta. Ela representa um pecado social e estrutural que sacrifica milhões no altar da produção para o consumo ilimitado. Isso caberia ao Papa profeticamente denunciar. Mas não o faz.

O texto do Magistério, olimpicamente fora e acima da situação conflitiva atual, não é ideologicamente "neutro"como pretende. É um discurso reprodutor do sistema imperante que faz sofrer a todos especialmente os pobres. Isso não é questão de Bento XVI querer ou não querer mas da lógica estrutural de seu tipo de discurso magisterial. Por renunciar a uma análise critica séria, paga um preço alto em ineficácia teórica e prática. Não inova, repete.

E ai perde uma enorme oportunidade de se dirigir à humanidade num momento dramático da história, a partir do capital simbólico de transformação e de esperança, contido na mensagem cristã. Esse Papa não valoriza o novo céu e a nova Terra, que podem ser antecipados pelas práticas humanas, apenas conhece essa vida decadente e, por si mesma insustentável (seu pessimismo cultural) e a vida eterna e o céu que ainda virão. Afasta-se assim da grande mensagem bíblica que possui consequências políticas revolucionárias ao afirmar que a utopia terminal do Reino da justiça, do amor e da liberdade só será real na medida em que se construírem e anteciparem, nos limites do espaço e do tempo histórico, tais bens entre nós.

Curiosamente, abstraindo de laivos fideístas recorrentes ("só através da caridade cristã é possível o desenvolvimento integral"), quando se "esquece" do tom magisterial, na parte final da encíclica, introduz coisas sensatas como a reforma da ONU, a nova arquitetura econômico-financeira internacional, o conceito do Bem Comum do Globo e a inclusão relacional da família humana.Parafraseando Nietzsche: "quanto de análise crítica o Magistério da Igreja é capaz de incorporar"?

* Teólogo, filósofo e escritor

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os resquícios de um inferno

Por Tiago Barbosa Mafra *

Em 20 de Julho de 1944 o Coronel Conde Claus von Stauffenberg, oficial do exército alemão em guerra, malogrou na mais famosa entre tantas tentativas de assassinato a Hitler. Era o sinal de que nem todo o povo alemão estava de acordo com as atrocidades colocadas em prática antes e durante o conflito. Pouco menos de um ano depois estava acabada a guerra na Europa e Hitler suicidou-se. Mas morreu com ele o nazismo?
Infelizmente é perceptível que não. Com a fuga dos políticos e militares sobreviventes, ou mesmo através de obras escritas propagadas indevida e ilegalmente pelo mundo, tem-se uma continuidade das idéias racistas, discriminatórias e intolerantes em relação a tudo considerado diferente do padrão “branco alemão”, o ariano puro.
Até mesmo no Brasil, no meios de comunicação virtual atuais, milhares e milhares de portais virtuais e blogs difundem idéias que se esperava estivessem esquecidas. E pasmem leitores: aqui mesmo em nossa cidade, Poços de Caldas, vivenciei está semana a facilidade com que esses verdadeiros crimes se mantem em andamento.
Ao buscar algumas obras de interesses para minhas pesquisas, me deparei com dois exemplars do livro Holocausto: judeu ou alemão?, de Siegfried Ellwager Castan, conhecido e repudiado no meio acadêmico como S. E. Castan. Desde 1986, Castan é denunciado pelos Movimentos Populares Anti-Racismo do Rio Grande do Sul, sendo que em 1991 o Ministério Público determinou a busca e apreensão de todos os títulos publicados pela Editora Revisão (da qual Castan é proprietário), incluindo o livro acima citado.
O que não consigo compreender é como essas obras ilegais e revisionistas, de cunho nazista, continuam à disposição da população e principalmente e mais preocupante, ao alcance da juventude, em uma das maiores bibliotecas do município, a Biblioteca Centenário, locada no prédio da Urca.
Encaminhei um pedido de retirada dos livros para a administração das bibliotecas e creio que as devidas medidas estejam sendo tomadas. O que mais assusta, como cidadão e educador, é saber que em tempos de crises e dificuldades, propostas de soluções rápidas e eficazes sempre fascinam a juventude. E o que nós menos precisamos agora é dotar o povo, já massificado pelos meios de comunicação e obrigados a pensar mais rápido e não a pensar melhor, com posicionamentos intolerantes, de aversão a tudo que não é considerado superior.
Todo cuidado é pouco. O chefe da propaganda nazista dizia: “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”. Foi assim que eles procederam. E é contra essas mentiras que devemos lutar.

* Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A MÍDIA E A BANALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Por Marcelo Fernandes Fonseca de Oliveira*

“Ninguém escapa da educação”, nos recorda e alerta Carlos Rodrigues Brandão [1]. Acompanhamos diariamente um discurso, que se torna cada vez mais discurso, tanto na mídia como na política, a temática: Educação. Educação como aporte para um futuro melhor. E sabemos disso. Sabemos o quanto uma educação progressista, humanista, libertadora e de qualidade é capaz de tirar as amarras e as vendas da juventude brasileira.
No entanto, a mídia que se diz apoiadora de uma educação qualitativa, em contrapartida, a apresenta em horário nobre da TV aberta brasileira com o estereótipo de uma “escola muito louca”.
Levei este debate para a sala de aula. Meus alunos, do primeiro ano do Ensino Médio, não gostaram das comparações. Afinal, o que esta escola muito louca quer mostrar? Será que nossa educação é assim? É essa a imagem da Educação brasileira? Se for, estamos fadados ao fracasso...
Ao apresentar uma escola desta forma, a mídia brasileira mais uma vez (Escolinha do Professor Raimundo, Escolinha do Golias), não está contribuindo em nada para a melhoria da educação. Aliás, penso eu, banaliza.
Um bando de alunos idiotas (opinião minha e de meus alunos), respondem a questionários pedagogicamente sem sentido. Os tipos são mal representados. O atleta, o fankeiro e o marginal. Banalizam as mulheres: muito corpo, pouca roupa e pouco cérebro. O chinês é o contrabandista, além do CDF, é claro.
O barato é fazer rir. Rir do professor, classe profissional que luta diariamente para recuperar seu prestígio na sociedade. Sidney Magal nos representa, e encerra sua aula dizendo: “eu poderia só cantar...”, como se educar fosse um passatempo, uma tarefa aparte. O que pensaria nosso grande mestre Paulo Freire...
Não possuímos uma educação perfeita, temos muito que melhorar. E muitos professores comprometidos lutam diariamente para isso. Para tanto, a grande mídia, que se diz tão incentivadora de uma educação de qualidade, poderia abrir espaços para debates consistentes e produções criativas sobre os mais diversos temas, e não nos apresentar como um bando de tolos.
Não somos assim; e o perigo se encontra na formação de opinião. Eles têm esse poder manipulador. E se querem nos apresentar desta forma, lutaremos contra; sempre.
Professores e alunos comprometidos com uma EDUCAÇÃO de qualidade, uni-vos!

*Professor de História e Geografia da rede pública estadual de Poços de Caldas – MG
marceloffoliveira@hotmail.com

[1] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação – SP: Brasiliense; 2005

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A DEMOCRACIA DA MINORIA


Por Marcelo Fernandes Fonseca

A organização social e política do Brasil, que fora e continua sendo ideologicamente construída, possui vestígios de uma sociedade que, segundo Marilena Chauí, “é marcada pela estrutura hierárquica do espaço social (...) fortemente verticalizado”. Ou seja, as relações entre os grupos sociais são e estão estabelecidas da seguinte forma: “um superior que manda e um inferior que obedece”.[1]
Raymundo Faoro, salienta que o poder efetivo de comando prevalece a mercê de uma pequena parcela da sociedade. Diz: “o estamento, quadro administrativo e estado-maior de domínio, configura o governo de uma minoria (...), o efetivo comando da sociedade, não se determina pela maioria, mas pela minoria, que a pretexto de representar o povo, o controla, deturpa e sufoca”.[2]
Vivemos em pleno o século XXI, o ranço de uma herança senhorial, marcada pelo conservadorismo paternalista da minoria. E o povo? Percebemos historicamente, a mínima participação das camadas populares nos eventos econômicos, sociais e políticos do Brasil. Juntamente com a escravidão, são fatores, que de certa forma, nortearão a formação do Estado Nacional Brasileiro. Vejamos alguns exemplos na História.
Revoltas ocorridas no Brasil nos séculos XVII e XVIII, nativistas ou separatistas, como Beckman, Mascates, Felipe dos Santos, foram lideradas pela elite colonial. Emilia Viotti da Costa nos mostra que “entre os Inconfidentes, a maioria era composta de proprietários e altos funcionários”. Na Conjuração Baiana, a participação popular foi um pouco mais numerosa, porem, o grupo dominante era “constituído por elementos instruídos e de recursos, e figuras importantes da sociedade”.[3]
Com a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil no inicio do século XIX, a autoridade política dos grandes proprietários aumenta. Por estarem geograficamente afastados do núcleo político nacional, a cidade do Rio de Janeiro, controlavam e direcionavam o poder local. Segundo Maria Isaura de Queiroz, “os senhores de engenho do Nordeste e os fazendeiros do Vale do Paraíba, estabelecidos a mais tempo na política, detinham o poder”.[4] A aristocracia brasileira comandava as Câmaras Municipais, controlavam a vida de seus subordinados e faziam leis em beneficio próprio.
As vésperas da Independência, diante das contradições e do choque de interesses dos controladores do poder, prevaleceram segundo Caio Prado Junior, as intenções do Partido Brasileiro. Para o autor, o Partido Brasileiro “representava as classes superiores da colônia, grandes proprietários e seus aliados”.[5] E o povo?
Durante a Proclamação da República o povo assistia a tudo “bestializado” [6]; na chamada República Velha, fraudes e interesses econômicos mantinham a elite no poder. Quando reformas de base estavam previstas, militares, com discurso de defender a honra da pátria contra o comunismo, mas aliados a burguesia nacional, assumem o poder. Adeus reformas... Adeus democracia.... E o povo?
Percebemos, a partir desta pequena amostra, que nos principais momentos da História do Brasil, a participação popular fora diminuta. A camada mais baixa da população esteve e está suprimida em nome dos interesses de uma minoria. Interesses disfarçados de democracia, mas para quem? Revoltas populares ocorreram, porem eram localizadas e facilmente controladas.
A dominação social prevalece. A política local, principalmente no interior ainda é controlada por oligarquias que dominam determinadas regiões do Brasil. O trânsito de tais oligarquias na capital federal é livre; manda e desmandam. Sarneys, Magalhães.....Vivemos orquestrados sob a batuta da democracia de poucos. Poucos podem, poucos fazem, e fazem pouco. Eles regem nossa vida, e se dizem democráticos; fazem leis em benéfico próprio e desrespeitam o primeiro artigo de nossa Constituição: “Todo poder emana do povo”.

[1] CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária – São Paulo: Perseu Abramo; 2007.
[2] FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro – São Paulo: Globo, 1997. vol 1.
[3] COSTA, Emilia Viotti. Da Monarquia a República: momentos decisivos – São Paulo: Brasiliense, 1994
[4] QUEIROZ, Maria Isaura. O mandonismo local na vida política brasileira e outros ensaios – São Paulo: Alfa - Omega, 1976
[5] PRADO JUNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos – São Paulo: Brasilense, 1994
[6] CARVALHO, Jose Murilo. Os bestializados – São Paulo: Companhia das Letras, 1987

domingo, 5 de julho de 2009

A Ditadura da Maioria

Por Tiago Barbosa Mafra

O discurso corrente na atualidade é que a humanidade, mais especificamente o homem ocidental, alcançou o modelo mais perfeito de governo: a democracia. Diante de algumas questões da política brasileira e afirmações lançadas recente e continuamente na mídia, cabem certas analises. O que é democracia? Estará ela tomada por idiotas? O objetivo deste artigo é fazer uma breve reflexão a partir do artigo de Luiz Felipe Pondé, sobre como o modelo econômico vigente atrelado aos meios de comunicação, contribuem para a apatia política do país, e paralelamente, para um entrave na busca por uma democracia verdadeira e efetiva.
O que é democracia, afinal? Utilizando simplesmente a etimologia, é o governo do povo, para o povo, pelo povo. É, portanto, a população governando a si mesma, visando sempre sanar os problemas da vida cotidiana e atender às necessidades da maioria, do coletivo, na busca da garantia da sua sobrevivência justa e digna.
Em contrapartida, o que assistimos hoje, segundo o texto de Luiz Felipe Pondé veiculado na Folha em 08/06/09, “A ciência idiota da política”, é a democracia confundida com a relação entre opinião pública (moldada) e a vontade popular. Segundo o texto, a soberania popular tem continuamente sido tomada como sendo a opinião pública veiculada pela estrutura midiática que proclama saber “o que o povo pensa”.
Tal discussão ganha força frente a rumores de um possível terceiro mandato do presidente Luís Inácio da Silva (o qual já descartou a possibilidade), que intriga e confunde favoráveis e contrários à medida. O texto em questão afirma que o modelo presidencialista de governo “(…) corre maior risco de cair na armadilha personalista e populista do executivo” (1). Para demonstrar que a causa do rebuliço não é a permanência do presidente Lula, como querem os “idiotas”, e muito menos a defesa da “estrutura democrática” das mazelas da personificação do poder, faz-se necessário atentar para os seguintes pontos, que descobrem a verdadeira inquietação.
Primeiramente é preciso contextualizar o que chamamos de “democracia brasileira”. Vive-se atualmente em uma profunda “apatia política” (2). A maioria do povo, outrora ligado a partidos ou a ideologias e que utilizavam tais instrumentos como canalizadores da vontade popular, não mais se envolvem em qualquer atividade de reivindicação ou condução popular. “A política está fora da realidade das pessoas” (3).
É nessa lacuna criada pela apatia política, que se consolida o primado dos interesses econômicos sobre o interesse político popular. Vivendo em um modelo econômico que se baseia na propriedade privada, na exploração do trabalho e na concentração de renda por grandes monopólios e oligopólios, resta à massa trabalhadora a corrida constante pela garantia da sobrevivência, pouco importando a atuação política que nada de material, pelo menos imediatamente, lhe trás. Torna-se escasso até mesmo o tempo de reflexão sobre a conjuntura do poder no país. Porém, nesse momento, se encaixam os meios de comunicação.
A mídia, que não está suspensa da realidade, comunga com o povo do mesmo modelo capitalista e em grande parte, a ele serve. Por serem os meios de comunicação, acima de tudo, propriedades privadas, atuam portanto de acordo com os interesses de seus proprietários, optando por orientar o enfoque sobre determinadas questões de maneira que lhes é mais conveniente e economicamente viável. O povo então, desprovido de pensamento próprio e acreditando em uma neutralidade dos meios de comunicação (que não existe e nunca existirá), adota como seu pensamento que não lhe é autêntico.
Já é perceptível o discurso contra os “idiotas” que defendem a possibilidades de um terceiro mandato. Sim, por que nos últimos anos à medida que cresce a Participação popular no exercício do poder, ou os fins da atividade estatal se dirigem de preferência para o atendimento dos clamores de melhoria e reforma social, erguidos pelas classes mais impacientes da sociedade, cresce concomitantemente o prestígio dos partidos, e se firma como Consenso geral a convicção de que ele é imprescindível à democracia em seu estado atual, e com ela se identifica quanto a tarefas, fins e propósitos almejados (4).
Durante os dois mandatos do presidente Lula, o que é visível é uma tentativa, mesmo que paulatina, de transformação das estruturas de distribuição de renda (5) . Contrariando expectativas de intelectuais e trabalhadores, o governo do presidente atual, partidário de uma organização política que estatutariamente se declara socialista, é mais reformista do que revolucionário. Entretanto, mesmo as “reformas”, não agradam as elites do país por colocarem em risco a relativa tranquilidade que já gozam a tempos. Portanto, não é a continuidade da pessoa, o populismo, não é a raiz do problema, mas sim a continuidade do projeto de construção de um Estado que utiliza dos instrumentos da máquina pública para o fortalecimento do próprio Estado e o benefício do povo. Aliás, nada mais justo do que a estrutura pública a serviço do povo.
Esclarecida a questão, resta então o ponto mais importante: a construção de uma verdadeira democracia, desvinculada do padrão contemporâneo exposto por Eduardo Bittar:“Seria a associação entre capitalismo, liberalismo e democracia uma espécie de bastião transformador da realidade política contemporânea, ou simples aparato ideológico de expansão do ideário moderno, progressista e acumulador de riquezas de alguns países industrializados? (6)” Para que essa verdadeira democracia concretize-se é indispensável e determinante um cidadão educado politicamente, capaz de interpretar e se posicionar frente as condições políticas que lhe são postas, sem que seja impulsionado a “comprar” uma idéia que não é sua, ou seja, compartilhar da opinião pública forjada sob interesses daqueles que controlam a mídia. Isso só será possível com a transformação do súdito da ditadura da maioria burra em cidadão atuante e consciente, que busque a construção da verdadeira democracia , onde, como foi definido no começo deste texto, impere o interesse coletiva sobre o interesse particular, findando o primado da economia sobre a política.
Tão idiotas quanto os que creem na continuidade do presidente Lula como solução das mazelas brasileiras, são também os que esperam que unicamente a rotatividade no poder garanta a sobrevivência da democracia brasileira nos moldes tradicionais. Para finalizar, não é possível passar em branco a alfinetada de Pondé quando este escreva: “Qualquer pessoa que seja favorável a um terceiro mandato de Lula (…) tem sonhos eróticos com (…) a ‘monarquia popular de Fidel (7)” .
Para tanto, e encerrando, cito Frei Betto:“Cuba resiste como único exemplo latino americano de democracia social e econômica (…) Quem considera que democracia se reduz a eleições periódicas não deve esquecer que em Cuba não há massacres do tipo Carandiru, grupos de extermínio, sequestros, desaparecimentos, assassinatos de crianças, aposentados desassistidos e extorsão financeira para acesso a saúde e a educação, que são gratuitas. (…) Por isso Cuba incomoda que acredita que encher urnas é mais importante que encher barrigas. Mesmo por que essa gente nunca passou fome. No máximo, teve apetite, com direito a couvert. (8)”
1 Folha de São Paulo. Luiz Felipe Pondé, “A ciência idiota da política”, 08/06/09.
2 Olhemos ao nosso redor. Nas democracias mais consolidadas assistimos impotents ao fenômeno da apatia política, que frequentemente chega a envolver cerca de metade dos que têm direito ao voto. Do ponto de vista da cultura política, estas são pessoas que não estão orientadas nem para os output nem para os input. Estão simplesmente desinteressadas daquilo que, como se diz na Itália com uma feliz expressão, acontece no “palácio”. Sei bem que também podem ser dadas interpretações benévolas da apatia política. Mais inclusive as interpretações mais benévolas não conseguem tirar-me da mente que os grandes escritores democráticos recusar-se-iam ao reconhecer na renúncia ao uso do próprio direito um benéfico fruto da educação para a cidadania. – BOBBIO, N.. “O futuro da democracia”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986: 32.
3 BITTAR, E.. “Curso de filosofia política”. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2005: 32.
4 “A democracia”, 277.
5 Exemplo é a medida do ultimo dia 16/06/2009, Terça Feira, em que ficou determinada a compra de 30% da merenda escolar de todo o país de pequenos proprietários agrícolas, que se organizam no modelo de agricultura familiar.
6 BITTAR, E.. “Curso de filosofia política”. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2005: 34.
7 Folha de São Paulo. Luiz Felipe Pondé, “A ciência idiota da política”, 08/06/09.
8 Texto de Frei Betto citado no jornal O Estado de São Paulo em 05/04/1995.
Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia e companheiro de lutas populares aqui em Poços de Caldas

terça-feira, 30 de junho de 2009

Capitalismo: o poder dos bancos e a fome

Em 2008 os grandes bancos mundiais, principais meios de acumulação de dinheiro do capitalismo contemporâneo, receberam mais ajuda que os países pobres em cinquenta anos.
É isso mesmo; os bancos receberam em UM ANO, mais ajuda que os países pobres em CINQUENTA ANOS.....
matéria da Agência Carta Maior
Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto os países pobres receberam, em meio século, cerca de US$ 2 trilhões em doações de países ricos, bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18 trilhões em ajuda pública. A ONU alertou que a crise econômica mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, agravando os problemas da fome, da desnutrição e da pobreza.
Redação - Carta Maior
O setor financeiro internacional recebeu, apenas em 2008, quase dez vezes mais recursos públicos do que todos os países pobres do planeta nos últimos cinqüenta anos. O dado foi divulgado nesta quarta-feira (24) pela campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) pelas Metas do Milênio, destinada a combater a fome e a pobreza no mundo. Enquanto os países pobres receberam, em meio século, cerca de US$ 2 trilhões em doações de países ricos, bancos e outras instituições financeiras ganharam, em apenas um ano, US$ 18 trilhões em ajuda pública. A ONU alertou que a crise econômica mundial piorará ainda mais a situação dos países mais pobres, lembrando que, na semana passada, a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) afirmou que a crise deixará cerca de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo.A revelação foi feita no início de uma conferência entre países ricos e pobres, que ocorre na sede da ONU, em Nova York, para debater o impacto da crise. Segundo o diretor da Campanha pelas Metas do Milênio, Salil Shetty, esses números mostram que a destinação de recursos públicos ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão de falta de recursos, mas sim de vontade política.“Sempre digo que se você fizer uma promessa e não cumprir, é quase um pecado, mas se fizer uma promessa a pessoas pobres e não cumprir, então é praticamente um crime”, disse Shetty à BBC. “O que é ainda mais paradoxal”, acrescentou, “é que esses compromissos (firmados pelos países ricos para ajudar os mais pobres) são voluntários”. “Ninguém os obriga a firmá-los, mas logo eles são renegados”, criticou o funcionário da ONU.Um dos efeitos desta perversa distorção foi apontado pela FAO: a quantidade de pessoas desnutridas aumentará no mundo em 2009, superando a casa de um bilhão. “Pela primeira vez na história da humanidade, mais de um bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de desnutrição em todo o mundo”, advertiu a entidade. A FAO considera subnutrida a pessoa que ingere menos de 1.800 calorias por dias.Do total de pessoas subnutridas hoje no mundo, 642 concentram-se na Ásia e na região do Pacífico e outras 265 milhões vivem na África Subsaariana. Na América Latina e Caribe, esse número é de 53 milhões de pessoas. Em 2008, o total de desnutridos tinha caído de 963 milhões para 915 milhões. O motivo foi uma melhor distribuição dos alimentos, Mas com a crise, o quadro de fome no mundo voltará a se agravar. Segundo a estimativa da ONU, um milhão de pessoas deverão passar fome no mundo nos próximos meses.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Aplausos censurados, o desepero da mídia

A mídia, que se diz imparcial, infelizmente mantém uma postura anti-Lulista. Gilson Caroni Filho mostra um, dentre os vários momentos onde a presença de Lula no cenário internacional causa impacto; principalmente ao criticar os efeitos perversos do neoliberalismo.
Aplausos censurados, o desepero da mídia

Em recente viagem a Genebra, o presidente Lula foi ovacionado ao discursar no Conselho Nacional de Direitos Humanos da ONU. Depois, segundo relato da BBC, " foi aplaudido seis vezes" ao criticar o Consenso de Washington e o neoliberalismo na plenária da OIT.
O silêncio dos portais da grande imprensa e a ausência de qualquer referência ao fato nas edições da Folha de São Paulo, Globo e Estadão foi gritante.Representou o isolamento acústico dos aplausos recebidos. Uma parede midiática que abafa o “barulho insuportável" na razão inversa com que ampliou as vaias orquestradas na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio de Janeiro. Nada como um aparelho ideológico em desespero.
Se pesquisarmos as raízes do comportamento dos meios de comunicação, veremos que elas nos dirão o quanto já é forte a desagregação da ordem neoliberal a qual serviram desde o governo Collor, passando pelos dois mandatos de FHC. Durante doze anos (de 1990 a 2002), a sociedade civil sofreu rachaduras sob os abalos devastadores da "eficiência" de mercado. Elas afetaram a qualidade da história, as probabilidades de uma República democrática e de uma nação independente.
Lula aparece como condensação das forças sociais e políticas que se voltaram para a construção de um novo contrato social. O tucanato, com apoio de seus porta-vozes nas redações, figura como ator que tenta reproduzir o passado no presente, anulando ganhos e direitos sociais. O que parece assustar colunistas, articulistas e blogueiros é o crescente repúdio á truculência infamante que produzem diariamente. Salvo, claro, a parcela da classe média que tem no denuncismo vazio e no rancor classista elementos imprescindíveis à sua cadeia alimentar. Aquele restolho que costuma pagar a ração diária com comentários insultuosos, sob a proteção do anonimato.
É preciso ficar claro que estamos avançando. Ou os de cima aprendem a conviver com os de baixo, ou como na fábula da cigarra e da formiga, poderão descobrir o arrependimento tarde demais. Seria interessante para a própria imprensa que trocasse os insultos de seus escribas mais conhecidos pelo debate verdadeiramente político. Aquele que busca compreender as condições sociais, políticas, culturais e econômicas de uma modernização que, por não promover exclusão, representa revolução democrática combinada com mudança social. Isso inclui aplausos, mesmo que abafados.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

RACISMO

Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio de clássicos como As veias abertas na América Latina, reproduz algumas frases ditas por "intelectuais" dos séculos XVI e XVII sobre a posição dos negros na sociedade. Eis algumas:

Barão de Montesquieu, pai da democracia moderna:
"É impensável que Deus, que é sábio, tenha posto uma alma, sobretudo uma alma boa, num corpo negro"

Karl Von Linneo, classificador de plantas e animais
"O negro é vagabundo, preguiçoso e inteligente, indolente e de costumes dissolutos"

David Hume, entendido em entendimento humano:
"O negro pode desenvolver certas habilidades próprias das pessoas, assim como o papagaio consegue articular certas palavras"

Louis Agassiz, eminente zoólogo:
"O cérebro de um negro adulto equivale ao de um feto branco de sete meses: o desenvolvimento do cérebro é bloqueado porque o crânio do negro se fecha muito antes do que o crânio do branco"

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Analfabeto Político

Minha primeira postagem é um poema do poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht, que nos faz pensar e refletir um pouco sobre nossa postura política.
O analfabeto político

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.
Nada é impossível de MudarDesconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
PrivatizadoPrivatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.