quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os resquícios de um inferno

Por Tiago Barbosa Mafra *

Em 20 de Julho de 1944 o Coronel Conde Claus von Stauffenberg, oficial do exército alemão em guerra, malogrou na mais famosa entre tantas tentativas de assassinato a Hitler. Era o sinal de que nem todo o povo alemão estava de acordo com as atrocidades colocadas em prática antes e durante o conflito. Pouco menos de um ano depois estava acabada a guerra na Europa e Hitler suicidou-se. Mas morreu com ele o nazismo?
Infelizmente é perceptível que não. Com a fuga dos políticos e militares sobreviventes, ou mesmo através de obras escritas propagadas indevida e ilegalmente pelo mundo, tem-se uma continuidade das idéias racistas, discriminatórias e intolerantes em relação a tudo considerado diferente do padrão “branco alemão”, o ariano puro.
Até mesmo no Brasil, no meios de comunicação virtual atuais, milhares e milhares de portais virtuais e blogs difundem idéias que se esperava estivessem esquecidas. E pasmem leitores: aqui mesmo em nossa cidade, Poços de Caldas, vivenciei está semana a facilidade com que esses verdadeiros crimes se mantem em andamento.
Ao buscar algumas obras de interesses para minhas pesquisas, me deparei com dois exemplars do livro Holocausto: judeu ou alemão?, de Siegfried Ellwager Castan, conhecido e repudiado no meio acadêmico como S. E. Castan. Desde 1986, Castan é denunciado pelos Movimentos Populares Anti-Racismo do Rio Grande do Sul, sendo que em 1991 o Ministério Público determinou a busca e apreensão de todos os títulos publicados pela Editora Revisão (da qual Castan é proprietário), incluindo o livro acima citado.
O que não consigo compreender é como essas obras ilegais e revisionistas, de cunho nazista, continuam à disposição da população e principalmente e mais preocupante, ao alcance da juventude, em uma das maiores bibliotecas do município, a Biblioteca Centenário, locada no prédio da Urca.
Encaminhei um pedido de retirada dos livros para a administração das bibliotecas e creio que as devidas medidas estejam sendo tomadas. O que mais assusta, como cidadão e educador, é saber que em tempos de crises e dificuldades, propostas de soluções rápidas e eficazes sempre fascinam a juventude. E o que nós menos precisamos agora é dotar o povo, já massificado pelos meios de comunicação e obrigados a pensar mais rápido e não a pensar melhor, com posicionamentos intolerantes, de aversão a tudo que não é considerado superior.
Todo cuidado é pouco. O chefe da propaganda nazista dizia: “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”. Foi assim que eles procederam. E é contra essas mentiras que devemos lutar.

* Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br

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