segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Jejum no Mês de Ramadan

ASSALAM UA LEIKUM !!!

No último domigo mais de 1 bilhão de muçulmanos comemoraram o "AL ID", tal data celebra o fim do Ramadan, mês de jejum e reflexão para o Islamismo. Este belo texto mostra o significado do jejum.

O Jejum no Mês de Ramadan

por Nizar El-Khatib*

No jejum do Ramadan (9º mês lunar), que iniciou-se em 22/agosto e terminou neste domingo com a comemoração de “Al Id”, mais de 1 bilhão de muçulmanos em todo o mundo abstiveram-se de beber água e comer, do alvorecer ao pôr-do-sol.

O Al Id é o dia em que as pessoas desejam felicitações umas às outras, geralmente durante as festas que são preparadas nas mesquitas quando do término do jejum. Sentimos uma alegria incomum após jejuarmos durante um mês inteiro.

A abstenção de alimentos nos faz refletir de maneira mais intensa sobre a nossa espiritualidade e a nossa atitude diante do mundo material e do consumo.

A sensação de fome nos coloca no lugar de nossos semelhantes que lutam com muita dificuldade pela sobrevivência, nos levando a refletir sobre a dor de tantas crianças famintas e o desespero de tantas mães para alimentarem seus filhos. O jejum nos leva a meditar e nos ensina a humildade. Durante este período desejamos paz, saúde e prosperidade para todas as pessoas e mentalizamos um mundo melhor, mais justo, com pessoas dignas e respeitadas, independentemente de religião, cor ou nacionalidade.

A privação de alimentos por vontade própria também nos leva a perceber nosso sistema digestivo como um importante centro de saúde ou enfermidade, e o alimento seu melhor remédio. É um processo de aprendizagem tanto sobre o nosso corpo quanto sobre os alimentos que ingerimos.

O jejum cultiva no homem, uma consciência vigilante e sã, um sentido criador de esperança e uma atitude otimista perante a realidade.
Cria no homem o verdadeiro espírito de dedicação social, de unidade, fraternidade e de igualdade perante a Deus e perante as Leis.
O jejum cria o sentimento de misericórdia e nos acostuma à disciplina, à generosidade e à paciência nas dificuldades.

O Islamismo, com a Instituição do jejum de Ramadan, traz à humanidade um benefício incomparável, transformando as pessoas em bondade, compreensão e amor.
Kúl ám u antúm bikheir (Felicidades em árabe)

Um forte abraço a todos e Feliz AL ID !

*Nizar é um grande companheiro de lutas socias em Poços de Caldas.

domingo, 13 de setembro de 2009

O efeito tequila dos tucanos

Por Emir Sader

Se os tucanos estivessem governando o Brasil – seja com a vitória de Serra em 2002 ou de Alckmin em 2006 – os efeitos da crise que o país está superando, seriam tão devastadores como foram os da crise de janeiro de 1999. O Brasil teria elevado a taxa de juros a alturas estratosféricas – em 1999 foi para quase 50% -, os gastos públicos sofreriram novo corte drástico, se assinaria novo acordo com o FMI, com a obrigação dessas medidas, mais privatizações de empresas estatais, etc., etc., como o governo FHC tinha acostumado ao país.

Para não ir mais longe: teríamos o mesmo destino do México. Como os tucanos são adeptos dos Tratados de Livre Comércio – tinham comprometido o Brasil com a Área de Livre Comércio para as Américas, Alca, que o governo Lula enterrou – estaríamos sofrendo as mais duras e diretas consequências da recessão norteamericana. O México, ao assinar o TLC da América do Norte – o Nafta – teve seu comércio com os EUA elevado para mais de 90% do total. Podemos imaginar o tamanho da recessão mexicana. Calcula-se que a economia terá um retrocesso de 7% neste ano, sem perspectivas de recuperação. Não por acaso o governos do México bateu uma vez às portas do FMI, com as consequências que se conhece, pela assinatura de mais uma Carta de Compromisso.

Combinam-se no México vários elementos explosivos de crise: para começar, um presidente neoiberal, Calderón, que procura dar continuidade ao programa de governo Fox, com a agravante de que triunfou por uma margen exígua de votos, com muitos indícios de fraude. Em segundo lugar, a profunda crise econômica, resultado das políticas neoliberais, agravada pela abertura econômica do Tratado de Livre Comércio assinado pelo México, com as consequências da recessão norteamericana. Em segundo lugar, a explosiva expansão do narcotráfico, com a aceleração da violência e da crueldade da ação das gangues e do exército e das polícias, fruto da situação limítrofe com os EUA, o maior mercado consumidor de drogas do mundo. Em terceiro lugar, a situação difícil dos trabalhadores mexicanos nos EUA, que sofrem mais diretamente os efeitos da crise: diminui a ida de mexicanos, porque os postos de trabalho diminuíram sensivelmente, ao mesmo tempo que diminui enormemente o envio de dólares para as familias mexicanas.

O livre comércio trouxe para o México, inicialmente, a promessa de desenvolvimento econômico, que ficou no entanto restrito à fronteira norte, onde o trabalho de mulheres e crianças nao sindicalizadas atraía capitais pela superploração da mão de obra. Mas mesmo essa “vantagem comparativa” desapareceu, conforme a China, mesmo situada incomparavelmente mais distante, atraiu as empresas, pela maior qualidade da mão de obra, seu preço menor e, especialmente, a capacidade de consumo do mercado chinês.Hoje o México vive situação que viveria o Brasil, uma brutal ressaca do tequila com que os tucanos teriam embebado o país.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

É hora de deseducar

Tiago Barbosa Mafra *

Ao observar a juventude dos dias atuais é claramente perceptível o esvaziamento de sentido de vida dessas pessoas. Falta-lhes objetivo, perspectiva, rumo. Muitos encontram orientação na rua, outros nas drogas, outros na violência, e a grande maioria no consumo exagerado como forma de atenuar a solidão construida pelo individualismo da vida contemporânea. A quebra de paradigmas do pós-modernismo deixou a sociedade com paradigma nenhum. Salve o deus mercado.
Nessa balburdia toda, qual o papel da educação? Como deve se posicionar a escola?
O primeiro passo para avançar na discussão é determinar o que a escola não deve ser. Na obra de Patrice Bonnewitz sobre as idéias de Pierre Bourdieu, apresenta-se a escola como a instituição que reproduz as desigualdades sociais, enquanto sistema de violência simbólica. “A cultura escolar é uma cultura particular, a da classe dominante, transformada em cultura legítima, objetivável e indiscutível”. (BONNEWITZ, 2003: 114)
Este é o primeiro aspecto do qual a escola pode fugir para não se tornar um instrumento de imposição de idéias, conceitos e atitudes dos grupos dominantes.
Outra avaliação corrente nos grupos de professores e na sociedade em geral, é de que a escola necessita de neutralidade, delegando aos estudantes a possibilidade das escolhas. Em relação à isso, é ingenuidade pensar a escola como um espaço neutro. Enquanto pesquisamos sobre algo ou debatemos algum conteúdo, é necessário a clareza de que são conhecimentos produzidos em um contexto, sob influências e valores simbólicos, diferentes dos atuais e que estavam a serviço de ideologias e/ou interesses de cada tempo. “A seleção das disciplinas ensinadas, assim como a escolha dos conteúdos disciplinares é o produto de relações de força entre grupos sociais. A cultura escolar não é uma cultura neutra, mas uma cultura de classe”.(BONNEWITZ, 2003: 115).
Há de se convir também que todos os espaços de vivência da juventude são continuamente fuzilados com propagandas e idéias prontas, as quais a maioria abstrai e torna como sendo sua, reproduzindo o que Eduardo Galeano chamou de Virtude do Papagaio.
Assim, ou a escola é um mero transmissor de conhecimentos, tecnicista e totalmente atrelada à cultura dominante, ou ela pode ser um modo de mostrar ao aluno que ele é sujeito de seu próprio tempo e espaço; definitivamente, neutra a escola não é, e nós, professores, não devemos tomá-la como tal. O educador precisa ter o comprometimento de apresentar ao estudante as mais variadas vertentes sobre os conteúdos, mas sem que isto acarrete na suspensão de suas idéias e valores sobre o tema.
Feitas tais ressalvas, é possível dizer que a escola tem capacidade de funcionar como formadora de pessoas de pensamentos e ações críticas em relação à realidade em que vivem. E acima de tudo, a educação proporcionada pela escola e pelos professores tem que ser uma educação para a liberdade, como propôs o educador Paulo Freire (extremamente reconhecido no mundo, e quase nada no Brasil):
“O caminho, por isto mesmo, para um trabalho de libertação a ser realizado pela liderança revolucionária, não é a “propaganda libertadora”. Não está no mero ato de “depositar” a crença da liberdade nos oprimidos, pensando conquistar a sua confiança, mas no dialogar com eles”. (FREIRE, 2002: 54)
A atividade docente, por mais que haja opiniões divergentes acerca do assunto, é um ato político. Não no sentido partidário, mas no ambito das relações de poder e do entendimento e atuação destas na construção dos espaços de vivência.
Talvez o papel da escola, na conjuntura atual, seja “deseducar”, contruindo o encontro do povo oprimido com a liderança revolucionária, para que na comunhão de ambos, como dizia Freire, a liberdade se faça e refaça sempre.

* Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br